"Pouco digno". Carneiro condena "leilão de valorizações salariais" de Montenegro

No sábado, o primeiro-ministro ensaiou uma subida da fasquia das metas salariais, acenando com 1.600 euros de salário mínimo e três mil de médio.

Carlos Santos Neves - RTP /
Paulo Cunha - Lusa

"Pouco digno". Foi assim que o secretário-geral do PS classificou, este domingo, o discurso proferido na véspera, pelo primeiro-ministro, perante o Congresso dos Autarcas Social-Democratas. A poucos dias da greve geral de 11 de dezembro, Luís Montenegro acenou com o cenário de um salário mínimo de 1.600 euros. José Luís Carneiro fala de uma "espécie de leição de valorizações salariais".

"É pouco digno de um primeiro-ministro, em vésperas de uma greve geral, estar com esta espécie de leilão de valorizações salariais. Essas discutem-se, avaliam-se, em função do crescimento da economia do país, em função das previsões para o nosso futuro, em sede de concertação social", reagiu Carneiro.O líder dos socialistas falava aos jornalistas antes da sessão evocativa Mário Soares - as palavras e as imagens, em Lisboa, que assinalou o dia em que o fundador do PS faria 101 anos.

Segundo o secretário-geral do PS, oferecer melhores condições de vida e remunerações aos trabalhadores é um objetivo transversal às forças políticas. José Luís Carneiro recordou mesmo que defende um salário médio "na ordem dos 2.500 euros" até 2035.

"Agora, os termos em que o primeiro-ministro está a apresentar estas propostas são termos que não dignificam o sentido do compromisso e até a honradez da palavra que se deve dar aos trabalhadores, que não merecem que lhes faça isto numa altura em que os seus representantes estão a preparar e depois tomarem uma decisão naturalmente muito refletida sobre uma greve geral", insistiu.
"Queremos mais"
O primeiro-ministro capitalizou este fim de semana o X Congresso dos Autarcas Social-Democratas, no Porto, para colocar em cima da mesa novas metas dos salários mínimo e médio - 1.600 euros de salário mínimo e três mil de salário médio -, quando na véspera fizera referência a montantes inferiores.

"Nós não queremos crescer dois por cento ao ano. Queremos crescer três por cento, 3,5 por cento, quatro por cento. Nós queremos que o salário mínimo não chegue aos 1.100. Esse é o objetivo que temos para esta legislatura, mas nós queremos mais, que chegue aos 1.500 ou aos 1.600", clamou o primeiro-ministro ao encerrar o evento partidário de sábado.

Na sexta-feira, Montenegro propusera que se aproveitasse o ímpeto do pacote laboral para atualizar o salário mínimo até aos 1.500 euros e o médio para os dois mil ou 2.500. Sugeriu, um dia depois, que o salário médio "chegue aos 2.500, 2.800 ou três mil euros".

"Nós queremos, efetivamente, criar a riqueza que possa combater a pobreza. Nós queremos um país que pense e execute um projeto de desenvolvimento que possa ser duradouro, que possa ser consistente, que possa ser suficientemente robusto para, cada vez mais, ser exemplar, como já é, hoje, à escala europeia", insistiu Montenegro na sua intervenção perante o Congresso dos Autarcas do PSD.
"Ato desesperado"
A CGTP veio entretanto considerar que a declaração do primeiro-ministro constituiu "um ato desesperado" e "um insulto" aos 2,5 milhões de trabalhadores com menos de mil euros de vencimento.

Na ótica da Intersindical, as palavras de Luís Montenegro, nomeadamente as referências a objetivos salariais em dois dias seguidos, são "um ato desesperado" decorrente da "crescente adesão à greve geral de 11 de dezembro".A CGTP reafirma que o pacote laboral é "construído na perspetiva e ao serviço dos interesses do patrão".


"O malabarismo das palavras e dos números feito pelo primeiro-ministro é um insulto aos mais de 2,5 milhões de trabalhadores, que têm um salário base bruto mensal inferior a 1.000 euros, para uma em cada cinco crianças que são pobres porque os rendimentos dos seus pais não são suficientes", retorquiu a CGTP.

Trata-se, ainda de acordo com a CGTP, de "um insulto" para "os 1,3 milhões de trabalhadores que têm um vínculo precário ou para os 1,9 milhões de trabalhadores que trabalham aos sábados, domingos ou feriados, ao serão ou pela noite dentro, aos quais falta tempo e melhores condições para viver".

c/ Lusa

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